Estresse Emocional X Performance

A liberação do cortisol é pulsátil e  estimulada diretamente pelo ACTH (adrenocorticotrófico) liberado na adeno-hipófise, que pulsa entre 7 a 15 vezes por dia. Cerca de 15 minutos após a liberação de ACTH, o cortisol é encontrado livre. Importante destacar que os surtos de ACTH são comandados pelo ciclo cicardiano, um ciclo de 24h sensível a fatores externos (claridade, temperatura, vento, entre outros) que controlam a liberação de hormônios em animais. Por isso, as concentrações plasmáticas de cortisol são maiores no período da manhã e decaem com o passar das horas.

Estímulos estressores como fraturas, queimaduras, estresse, exercício físico induzem a produção de cortisol relacionando com o estado de luta ou fuga. O contato frente a ameaça ou diante de exercícios de maior intensidade, o hipotálamo libera o hormônio liberador de corticotrófico (CRH), ocasionando a pulsação de ACTH na hipófise, posteriormente ligado aos receptores do córtex suprarrenal e consequente liberação de cortisol. O hipotálamo recebe informações nervosas de outras áreas do cérebro, e quando há uma lesão os níveis de CRH aumentam, culminando na liberação de cortisol, que nesse sentindo, trabalha na degradação de proteínas de tecidos para a formação de aminoácidos que possam ser utilizados no reparo do tecido lesionado.

Ou seja, o estresse emocional sofrido no trabalho, estudos e rotina, o colocam em um estado de luta ou fuga, aumentando níveis de adrenalina, de açúcar no sangue, aumentando batimentos cardíacos. Tudo isso para lhe preparar para um possível combate que não vai existir, que é tudo criação da sua cabeça.

Durante o treinamento de alta intensidade, o cortisol é um aliado da performance justamente por promover esse estado de alerta, além da alteração que promove no comportamento, também por suas ações catecolamínicas. Entretanto, durante a recuperação, onde se prioriza o anabolismo as taxas elevadas de cortisol podem atrapalhar substancialmente o atleta.

A função principal do cortisol, que é a forma mais potente dos glicocorticoides, é aumentar a concentração de glicose no sangue, com isso, aumenta a gliconeogênese em níveis até 10x acima do normal e aumenta a síntese de glicogênio hepático. O problema é que o substrato principal para a gliconeogênese vem dos aminoácidos resultantes da degradação tecidual (massa muscular). Além disso, apesar de aumentar os níveis de glicose no sangue, o cortisol possui efeitos anti insulínicos, fazendo com que a glicose não entre na célula e não seja utilizada como substrato energético.

Aumento da glicose no sangue e dos níveis de glicogênio hepático, levam diretamente ao menor estoque de glicogênio muscular. Além disso, os aminoácidos sendo utilizados para gliconeogênese e a insulina baixa leva a uma menor síntese de proteína. Maior degradação proteica e menor síntese proteica é igual a maior excreção de nitrogênio. Indivíduo entra em estado catabólico. Único lugar do corpo humano que a síntese de proteínas aumenta na presença de cortisol, é no fígado.

Outro agravante, é que o cortisol aumenta a lipólise, a quebra das moléculas de triacilglicerol e três moléculas de ácidos graxos e uma de glicerol. O glicerol vai para a gliconeogênese para ser intermediário na produção de mais glicose e os ácidos graxos livres na corrente sanguínea, priorizados para serem oxidado. Por isso, o cortisol possui a capacidade de mobilizar gordura dentro do corpo, pois quebra as moléculas de gordura de determinadas regiões, lança na corrente sanguínea e o que não for oxidado será redistribuído.

Após liberado, atua no sistema nervoso central modulando a percepção e a emoção, diminuindo o CRH e a liberação de ACTH, isso quando normalizado. Outro ponto a se considerar é que o cortisol inibe a síntese de osteoblastos e de colágeno, e no stress crônico pode comprometer a saúde óssea e articular. Excesso de glicocorticoides pode levar a uma imunossupressão, ou seja, supressão da resposta inflamatória. O atleta necessita da resposta inflamatória para que haja adaptações ao treinamento.

Glicocorticoides são altamente catabólicos, degradando massa muscular, ossos e massa corporal. Por isso, é de extrema importância par ao atleta ou praticante de atividade física manter controle do stress e dos aspectos emocionais de sua vida. O estresse diminui significativamente a recuperação do treinamento, diminuindo o potencial de anabolismo que uma refeição rica em nutrientes e descanso promovem. Tudo começa na sua mente.

Todos esses fatores somados fazem o indivíduo sempre operar abaixo do seu potencial de desempenho.

Alguns suplementos fitoterápicos, exercícios físicos de baixa intensidade e maior duração, descanso e uma boa noite de sono auxiliam na melhora do estresse emocional. Além disso, terapia e meditação são ferramentas indispensáveis para muitos atletas.

Cortisol não traz apenas malefícios, como dito, é um hormônio essencial para a vida, com uma função de extrema importância na modulação inflamatória. Mas isso fica para um próximo post.

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